terça-feira, 16 de março de 2010

Mt 28.19 e a questão do verdadeiro batismo

A verdadeira questão por trás disso é como deve ser o batismo? Deve-se dizer ao batizar alguém: "Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito" ou "Eu te batizo em nome de Jesus"?

Apesar de parecer uma questão de pequena importância ela não é. A maneira como vamos responder essa questão vai se relacionar com diversas questões não diretamente relacionadas, como por exemplo, a existência da Trindade; a forma correta de exegese; a inspiração da Bíblia. Por isso deve ser considerada como um certo cuidado.

A questão parece ser ainda mais relevante uma vez que alguns tem visto uma contradição entre esta passagem e a prática da igreja primitiva, uma vez que diversas vezes no livro de Atos a Bíblia fala de batismo em nome de Jesus e em nenhum momento se fala de batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Um último agravante parece colocar "lenha na fogueira". Seria o comentario da Bíblia de Jerusalém sobre este texto com os seguintes dizeres:

É possível que, em sua forma precisa, essa fórmula reflita influência do uso litúrgico posteriormente fixado na comunidade primitiva. Sabe-se que o livro dos Atos fala em batizar “em nome de Jesus” (Atos 1:5; 2:38). Mais tarde deve ter-se estabelecido a associação do batizado as três pessoas da trindade.
(Rodapé da Bíblia de Jerusalém sobre Mt 28.19).

Essa passagem tem sido citada para afirmar que o texto em questão não deveria ser considerado. O grande problema é que muitos têm adotado a postura teorica de selecionar textos em que se deve crer. Os judeus ortodoxos e muitos messianicos defendem a santidade apenas do Antigo Testamento, negando a validade do Novo Testamento; os protestantes tradicionais e os pentecostais negam o Antigo Testamento só considerando o Novo; muitos antitrinitarianos ex-adventistas (incluí também aqui alguns judeus messiânicos defendem que certas partes da Bíblia foram adulteradas, por isso não são confiáveis. Nós, os adventistas do Sétimo Dia, mantemos como postura teorica a crença de que a Bíblia como atualmente temos é a Palavra de Deus dada a homens santos por meio do Espírito Santo, dessa forma deveriamos buscar a totalidade da Bíblia, tentando harmonizar idéia em vez de coloca-las em oposição.

Admitir que parte do livro de Mateus (ou apenas o verso 19 do capítulo 28) não foi inspirado por Deus está fora de cogitação no pensando Adventista do Sétimo Dia. Sem falar que nenhum fragmento do Novo Testamento encontrado até hoje que possui a parte final do livro de Mateus deixou de ter o texto do verso 19.

Eu deveria realmente dar tanta importância a apenas um versículo? Poderia fazer uma consideração doutrinária baseado apenas em um verso?

A doutrina adventista do Santuário Celestial, especialmente a parte que se refere aos 2.300 anos é mensionado apenas 1 única vez em toda a Sagrada Escritura, nem por isso deixa de ser importante ou deveria ser desconsiderada.

O casamente entre irmãos só é proibido em uma único lugar da Bíblia (Lv 19). Nem por isso deve ser ignorado ou deixa de ser seguido por toda a cristandade (INDEPENDENTE DA DENOMINAÇÃO CRISTÃ)

Quando um interprete (teologo ou leigo) se depara com dois textos aparentemente contraditório ele pode adotar uma posição reducionista (ou parcialista) de que apenas um dos dois está correto e o outro não ou adotar uma posição integrativa em que de alguma maneira se deve armonizar as duas passagens.

Se eu olhar o texto de Mateus e os vários textos em Atos e em outros lugares poderia crer que eles estão em aparente contradição e assumir uma das duas posições: (1) o que vale é apenas o conjunto de textos de Atos e os outros, o texto de Mateus não está correto; ou (2) tentar armonizar o conjunto completando com a passagem de Mateus.

Com a citação que é feita do comentário da Bíblia de Jerusalém demonstra claramente que estes que o apresentam tem adotado a posição teorica (1). O que eu estou tentando apresentar é que é possível aplicar a opção (2) e entender este conjunto. Seguindo esta posição não haveria contradição entre Mateus, Atos e outras.

Não há contradição nas passagens, quando alguém batiza em Nome do Pai, em Nome do Filho e em Nome do Espírito Santo eu estou batizando em Nome de Jesus, uma vez que Jesus é o nome do Filho que é citado no texto de Mateus 28.19.

Mas como deveriamos entender o comentario da Bíblia de Jerusalém?

A citação da Bíblia de Jerusalém deve ser também considerada com mais atenção.

(1º) Um pesquisador deve ser muito sincero diante do que ele encontra. O texto diz: "É possível que", isso não pode ser interpretado como significando "Com certeza é". Existe um grande abismo entre estas duas afirmativas. Assim como "deve ter-se" não é igual "foi". Portanto, o texto expressa uma incerteza.

(2º) O texto também diz que "uso litúrgico posteriormente fixado na comunidade primitiva" o que significa dizer que os proprios apostolos teriam adotado uma liturgia diferente posteriormente, ainda que a informação seja verdadeira deve-se entender que uma decisão tomada dentro da era apostolica e sendo registrada em um livro canonico não é um conselho opcional, ou seja, deve-se entender que isso faz parte do Evangelho ensinado por Jesus Cristo e por sua igreja primitiva. Entende-se como igreja primitiva a igreja dos apostolos, ou seja, com certeza se isso aconteceu foi antes da morte dos apostolos. Quando alguém toma esse texto pode tentar insinuar que o tempo posterior se refiriria a época dos Pais da Igreja ou do Periodo Imperial posterior a Constantino, informação totalmente em desacordo com o que está escrito na Bíblia de Jerusalém.

(3º) Ainda que a informação seja verdadeira em momento algum ela poderia ser usada para dizer que o texto de Mateus 28.19 é espúrio, ou foi adulterado, ou é incorreto, ou que não deve ser considerado pela igreja cristã.


Devemos batizar em nome de Jesus?

Com certeza, e nós batizamos em nome de Jesus em nome do Pai e do Espírito Santo.

Se só existe um batismo bíblico então eu não estou autorizado pela Bíblia a crer que existe um batismo em nome do Pai do Filho e do Espirito Santo como em Mateus 28.19 e um outro em nome de Jesus como no conjunto de textos de Atos e outros semelhantes. Existe apenas um batismo e este deve ser em nome do Pai, em nome do Filho (Jesus Cristo) e em nome do Espírito Santo.

É comum ver o pensamento parcialista em afirmações como: ou é em nome de Jesus ou em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo. Outro problema comumente encontrado é a exegese democrática, ou seja, a maioria vence e ouvimos frases como: mais como a biblia me da mais 15 evidencias de que é em nome de Jesus este é o correto. Facilmente se identifica que o sujeito que afirma isso entende que que Mateus 28.19 não é correto.

Nós cremos na Bíblia como a Palavra de Deus, não me cabe selecionar o que eu quero obedecer ou aceitar e excluir o que eu não quero. Nós, os adventistas do Sétimo Dia, aceitamos a Bíblia como ela é hoje, na totalidade dos 66 livros que Deus nos concedeu como a revelação escrita mais importante já confiada aos homens. É em armonia com a totalidade da Bíblia que devemos fundamentar nossas doutrinas.

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